O livro O Capitão Saiu para o Almoço e Os Marinheiros Tomaram Conta do Navio é Bukowski de pantufa. Nada uísque com poesia no talo. Aqui, o velho está em casa, literalmente: um diário de 1991 a 1993 onde a fúria virou mofo de canto de parede, e o caos se acomodou numa poltrona manchada de Carreteiro. Buk tá velho, não manso — tá ácido, tá ranzinza, tá um sábio embriagado que prefere corrida de cavalos a debate político.
CORRETO!
Me julgue.
O Capitão Saiu para o Almoço e os Marinheiros Tomaram Conta do Navio é um título que parece nome de bloco de Carnaval anarquista em Olinda, mas na real é o epitáfio antecipado de um cronista do bonfim. É como se o próprio Bukowski dissesse: “vou ali dar uma morrida, massa? Mas antes, deixo esses bilhetes sujos no chão da cozinha.”
Ele escreve como quem abre a geladeira e reclama da vida: resmunga dos vizinhos, dos editores, das revistas literárias cheias de pompa e nada de gozo. Que nem uma galera da academia que tem citação de Foucault decorado de cabeça.
Fala da própria decadência como quem narra uma novela das seis passada num asilo pós-apocalíptico. Há um tom de fim de feira em cada página — mas é aquela feira em que ainda se encontra um abacaxi doce no chão, se tu tiver coragem de pegar.
É só dar aquela sopradinha e apostar que quem já bebeu água de torneira está imune à coisa pouca.
Tem muita repetição? Tem. Mas é tipo mantra de velho doido: se tu ouvir com atenção, vira oratório sujo. Ele diz que a literatura não serve pra nada, mas escreve todos os dias. Diz que odeia gente, mas observa todo mundo. Diz que não acredita mais em grande coisa, mas ri das pequenas. Um niilismo com cheiro de jornal velho e pão amanhecido, servido com margarina de sarcasmo.
A velhice é a grande personagem aqui. A morte ronda como gato de rua que não se deixa tocar. E Bukowski, mesmo caindo aos pedaços, continua tentando encontrar sentido nos cavalos, nos vinhos de merda e na escrita — como se fosse possível salvar o mundo com uma Olivette quebrada e um maço de cigarros mentolados.
Esse diário é o espelho quebrado de um homem que viu tudo e ainda teve tempo de odiar um pouco mais. É zen-bundalismo bêbado de lojinha 24h. É Bukowski nos descontos da desvida, ainda ferino, ainda hilário, ainda mais humano do que qualquer um dos literatos com doutorado e alma de planilha.
No fim, é como se ele dissesse pra gente: "vai, escreve também, seu bosta. Mesmo que ninguém leia. Porque no fundo, o navio tá afundando e o capitão já pulou fora. Sobra pra gente tocar a banda."
Clica aí no botão e vai ler que a chuva não tá dando sobremesa.
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