"Tião" virou sal e luz.
Eu me tornei fotógrafo porque vi suas fotos (e mais de alguns outros que agora recebem ele de braços abertos).
Foi-se o homem que olhava o mundo com olho de gente.
Nesse momento não há lamento mudo aqui em mim: é choro batendo o pé no solo e as veias acesas.
O Brasil que ele viu não era cartão-postal: era dor e suor em preto e branco, era a espinha do planeta gritando em silêncio.
Tião não fotografava gente — ele botava luz sobre a alma do que nos tornamos.
Claro, há quem tenha longas e enfadonhas críticas na ponta da língua.
Ora, vai lá fazer melhor!
Na Antártica ou no garimpo, nas selvas ou no êxodo, ele ia como quem reza com os olhos, como quem fere o tempo com a possibilidade de ver.
Ele viu a poeira subir onde o mundo desaba e nos ensinou que a fotografia também é um ato de resistência.
Imagem como denúncia. Imagem como afeto. Imagem como altar.
Fotografar, pra ele, era gesto político, poético e vital.
E agora que ele se foi, nenhum outro ocupa esse lugar.
Candela é vela acesa na encruzilhada por ele: por sua coragem de olhar o horror e a beleza sem baixar a lente.
Por ter feito do preto e branco a cor mais feroz do planeta.
Van-van tá te esperando, Tião.
Vai, Sebastião.
Vai, mestre.
Vai, caçador de dignidades perdidas.
Vai, que tua imagem não morre: ela queima a retina do mundo colapsado.
Até breve!
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